Marília e Júlio: Acaso

Clara e Lânia passaram a semana combinando para ir á festa da padroeira da cidade vizinha, combinaram que roupa iriam, cochichavam sobre rapazes e davam longas rizadas, afinal é festa, é diversão, paquera e liberdade. Marília, sempre foi afastada, pois seus sonhos sempre vagavam para muito longe, a cidade que morava e as cidades vizinhas não enchiam os seus olhos, sempre queria mais e mais, lugares longínquos bonitos, outros ares, novas paisagens e rapazes mais sofisticados que poderiam trazer a ela o novo, o desconhecido, o amor na sua forma mais sublime de aventura.

Era descontente, insatisfeita, pois sempre lhe faltava algo, parecia que nascera na família errada, no lugarejo errado e residia na cidade errada, ao contrário de suas irmãs tudo era festa! Bailes nas fazendas, ah estes a faziam flutuar! Namoravam os rapazes das fazendas e cidades vizinhas, curtiam as suas mocidades! Marília, tentava, porém ela sabia que os seus amores estavam muito além dali.

Enfim, meio sem entrosar com as irmãs foi com elas à festa numa cidadezinha logo ali perto, chegaram na casa da vó Eulália, sempre muito receptiva, se arrumaram em êxtase e felicidade partindo para o centro da cidade onde estava acontecendo à festa. Logo, elas despistaram de Marília e apareceram cada uma acompanhada com rapazes das redondezas. Andar com Marília era muito chato, "ela se achava" não gostava de "rapazes de roça" e com certeza iria falar para tia Letícia ( moravam com tia Letícia na cidade) que estávamos namorando, era o que diziam Clara e Lânia.


Marília, se sentindo só em meio a multidão, vagava para lá e para cá até encontrar o seu tio Ginaldo, do qual ela gostava muito, conversaram, e por fim encontrou uma prima ficaram conversando paradas no meio da praça. Foi quando passou Júlio, tímido, branco, muito bem arrumado, cabelos castanhos, olhos castanhos e como estava muito frío usava calça jeans, um moletom e blusa preta que ficou muito bem nele por ter a pele clara, ele olhou fixamente para Marília, ela retribuiu o olhar, mas não foi qualquer olhar, foi um olhar de: nossa ele é lindo e esta olhando para mim! Ele parou alguns metros distante dela e ficaram por alguns minutos trocando olhares, foi ai então que ele se aproximou e começaram a conversar, passaram a festa juntos, trocaram telefones com a promessa de um próximo reencontro. No outro dia ela e suas irmãs voltaram para a casa da tia Letícia.


Marília, sempre almejou coisas que não condiziam com a sua realidade, inclusive namorados. Por isso, vivia sempre angustiada e melancólica. Pois antes de conhecer Júlio, viveu um amor platônico por Joaquim de uns 15, 18 anos mais velho do que ela, que simplesmente deixou claro para que já tinha alguém no lugar dela, pois era muito tímida e vivia numa bolha, não era a mulher que ele almejava. Mulher rejeitada se torna automaticamente mulher cegamente apaixonada foi o que aconteceu com Marília, ela expôs essa paixão reprimida para Júlio, ele entendeu e prometeu a ela que a faria esquecer o Joaquim. Mas isso não aconteceu.

Marília iludida e sempre ligando e mandando mensagens em vão para Joaquim não se concentrou no novo romance, terminando com Júlio, este em desespero e choro insistia, ligava, ia no trabalho dela, desesperado pedia para voltar. Se uma mulher desesperada que corre atrás não é atraente, imagine um homem! Marília não voltou. O tempo passou, e Marília ficou sabendo que Júlio havia perdido a sua mãe, ela muito ressentida teve dó e voltou com ele, pois estava sofrendo demais. E nessa volta, resolveram morar juntos. Mas ela tinha a alma impregnada de angústia, sentimento de pequenez e desamor e em contrapartida veio de surpresa o ciúme desequilibrado de Júlio, fazendo assim, com que Marília entrasse numa depressão profunda, e tudo começou vir á tona, aquela relação não existia amor era uma apaixonite aguda vinda de Júlio e uma sede afetiva partindo de Marília acabando numa separação.


Marília, sofreu. Júlio desapareceu. Eram muitas lágrimas, ela tinha criado uma dependência emocional muito grande por ele. Pois, a sua carência, o vazio e falta de amor próprio resquícios de uma infância revoltada buscou nesse relacionamento o cantinho, o aconchego para suas várias frustrações, ela se entregou a Júlio simplesmente porque ele demonstrava gostar dela, e só pelo fato de alguém gostar de verdade dela já não precisava de mais nada.

Em pouco tempo, Júlio voltou a fazer o que gostava muito que era de festas,amigos, bebidas e jogos casuais, voltou a sua rotina, antes reprimida e sufocada por Marília. Que queria colocar ele na forma dela, que queria que ele fosse o salvador de todas as suas mazelas da alma. E Marília continuou em busca de si mesma.

Marília foi rejeitada pela sua mãe e pelo seu pai, nunca conseguiu sintonizar na mesma frequência que as suas irmãs, caiu de pára quedas numa família torta e moldou uma personalidade de desamor e vazio.

Buscar no outro o remédio para curar a sua tristeza, a autoestima destruída e a fraqueza nunca foi e nunca será o melhor caminho. Seja brisa leve, saiba que amor rejeitado caminha para paixão aguda, ciúmes exagerado caminha para o fim do que seria uma relação e carência afetiva ... ah a carência é o mal silencioso que faz toda mulher fraquejar.


Por Marluce Santdan







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